sábado, 17 de maio de 2014

Sacerdócio: a eterna entrega ao outro

Olá pessoal! Quanto tempo...
Decidi retomar projetos, e veio a mim a inspiração repentina de escrever para o Blog.
Ele está com visual 2014 e também novidades. Temos a página “Artigos”, onde eu postarei alguns artigos de autores pagãos que poderão agregar ao blog.
A partir desse ano, decidi que blog será mais voltado para textos reflexivos do que textos “de escolinha”, aquela coisa de ensinar. Basearei os textos na minha vivência e assim, os textos serão mais pautados na reflexão de assuntos mais profundos.
Antes de começar efetivamente a postagem, gostaria de pedir que votem nas enquetes ao lado. A opinião de vocês é muito importante para mim, pois são as inúmeras visitas no blog – mesmo ele estando desatualizado, rs – que me mantém firme nesse projeto.


"Nunca se dedique tanto, ao ponto de se esquecer de si mesmo!"
- Anônimo

A internet é realmente fascinante!
Além d’ela nos conectar com outras pessoas, ela ainda facilita a nossa observação pra com essas pessoas. E quando se é pública, como eu, conseguimos ainda mais acesso a todas essas facilidades e privilégios que a internet, com suas redes sociais, nos proporciona.
E eu tenho observado, por meio da internet, a crescente formação repentina de Sacerdotisas e Sacerdotes da Arte. Eles se expõem, escrevem grandes textos, fazem inúmeros vídeos, possuem vários dedicados e seguidores. Mas se tornar uma Sacerdotisa ou Sacerdote da Bruxaria, que são a voz e representação dos Deuses no mundo, não é assim tão fácil não é?!

A Bruxaria é uma religião sacerdotal, lembrando claro, que também é tida como ofício e filosofia de vida – embora eu não concorde com essa tese.
O sacerdócio da Bruxaria, historicamente, nos remete as civilizações pré-gregas, mais especificamente ao povo minóico, da Antiga Creta, até a linha dois.
Mas o que, na verdade, é um Sacerdote?
A raiz da palavra Sacerdote é duvidosa. Segundo minhas pesquisas, pode ter duas origens: do latim, sakro-dots, que significa aquele que desempenha, ou do grego, com as junções das palavras sacer=sagrado e dhe=fazer. Seja lá qual for a verdadeira origem, a essência a palavra é a mesma: desempenhar um papel sagrado no mundo, um papel que represente os Deuses – ou a Divindade daquela crença.
Na Bruxaria, então, nos tornamos Sacerdotisas/ Sacerdotes depois que iniciamos no 1º grau, geralmente. Isso pode variar de tradição para tradição, pois há tradições que não seguem o sistema de graus, porém sempre há uma forma de determinar o grau de conhecimento e preparo para o neófito se iniciar; ou quando se é solitário, pois aí, não há a necessidades dos graus, a não ser que o postulante queira.
Como todos já devem saber, antes da Iniciação acontecer, passamos pelo período da dedicação, onde se aprende e vivencia todo o necessário para se atingir a iniciação.
Revisões à parte, o assunto não é esse.
A questão é que o crescimento de Sacerdotisas/ Sacerdotes hoje em dia, está rápido demais, fazendo assim com que essas respectivas “sacerdotisas/ sacerdotes” não mereçam esse título de fato.
Tudo bem... já foi explicado o que é uma Sacerdotisa/ Sacerdote e como pode-se chegar até lá. Mas e depois? Porque tornar-se uma Sacerdotisa/ Sacerdote é fácil, o difícil é exercer verdadeiramente o sacerdócio.
Não damos o devido valor as nossas Sacerdotisas até nos tornarmos uma – é bem aquele lance de mãe, você nunca sabe de fato o que é ser uma até se tornar a própria. Então, hoje, eu posso afirmar que ser sacerdotisa consiste, em grande, na entrega parcial, se não total, ao outro. Entrega do seu tempo, da sua vida e de você ao seu Coven, a sua família espiritual, ou até mesmo, aqueles que você se propõe a ajudar mesmo sem ter um Coven.
Isso ocorre porque as Sacerdotisas/ Sacerdotes, como dito antes, são a representação e voz dos Deuses, sendo responsáveis por disseminar aquela crença sem o prosélito. E quando se tem um Coven, isso se multiplica, pois os Sacerdotes passam a ter responsabilidades por aquelas pessoas.
Contudo, muitas Brux@s não enxergam o sacerdócio por esse prisma. Por isso, o Coven ao qual faço parte – Coven Semente Ancestral – dá opção ao iniciando; a opção de seguir o sacerdócio com o objetivo em usá-lo para fazer crescer a crença, ou a opção de usar o sacerdócio para si.
O problema de algumas figuras sacerdotais da internet é que elas não conseguem entender que ser uma sacerdotisa/ sacerdote não consiste simplesmente em fazer vídeos para o povo bruxístico. Ser uma Sacerdotisa é algo muito sério e de inteira profundidade, onde a responsabilidade é muito exigida e que, infelizmente, com o crescimento da Bruxaria e da Wicca principalmente, banalizou-se tal prática.


La Charité, de William Bouguereau.
Essa obra retrata muito bem o aspecto
Mãe da Deusa, mostrando-nos que as
Sacerdotisas desempenham o
papel das mães espirituais.
Quando torna-se uma Sacerdotisa, o sacerdócio também é para você, serve para a sua ascensão e para a sua conexão com os Deuses, mas também grande do seu sacerdócio é para o outro. A Sacerdotisa não deve simplesmente passar conhecimentos avançados, mas é sua responsabilidade e dever também auxiliar na cura daquelas pessoas, do crescimento individual daquela pessoa para que, um dia, essa pessoa possa então, tornar-se também a voz dos Deuses para os demais.
Com isso, nos abdicamos de grandes prazeres e momentos individuais de nossa vida em prol do outro. As Sacerdotisas vivem sempre dois ou mais caminhos: o dela e os dos outros, seus dedicados e filhos.
Paralelamente à isso, temos também o perfeito amor e perfeita confiança que a mesma precisa ter, manter e disseminar dentro do Coven, o que não é uma tarefa fácil uma vez que estamos falando de relações humanas.
Temos o péssimo o hábito, principalmente quando estamos no começo, de achar que nossas Sacerdotisas/ Sacerdotes são perfeitos e nunca erram. Mas além desse ser um tremendo ato de egoísmo é também um grande engano, pois nesse emaranhado de afazeres o mais comum seria errar, tentando acertar. A única diferença – e significante, diga-se de passagem! – é que as Sacerdotis@s possuem sempre a voz dos Deuses auxiliando-as. Mas isso não os deixa imune a erros, até porque, os erros servem na maioria das vezes, para acertarmos. Uma Sacerdotis@ não nasce sabendo ser Sacerdotis@ - embora já tenha uma inclinação para tal desde o início. Minha Sacerdotisa – Lua Serena – costuma dizer que quando nasce o primeiro Iniciado, nasce também a Sacerdotisa.
Logo, poderia afirmar com certeza que, ser Sacerdotis@ é, muitas vezes, se anular e anular a sua vida para viver a vida do outro. É realmente ser mães e pais espirituais. Não esquecendo, é claro, da sua prática individual não é?! Sacerdotis@s precisam estar equilibradas e conectadas o tempo todo, pois aprenderam fazer isso e escolheram que seria assim. Nem sempre isso é possível, mas as verdadeiras sempre tentam... e na maioria das vezes, conseguem, hehe.

Nossa, mas se ser Sacerdotis@ é tanta responsabilidade e peso assim, eu não quero me tornar uma/ um não!
É o que mais ouvimos, rs.
Mas acalme-se... por isso, você tem a escolha de tornar-se um sacerdote solitário ou um sacerdote de Coven.
Nossas Sacerdotis@s são nossas ancestrais.
A ancestralidade é de grande importância
na Bruxaria.
Quando escolhe-se a segunda opção, é inegável o trabalho, a responsabilidade, o peso, etc, etc, etc... mas também é inegável a gratidão, o amor e carinho que se recebe, os presentes – as próprias pessoas do Coven -, as inúmeras curas. Quando se é Sacerdotis@ de um Coven, você não aprende somente com os seus erros, não se cura somente com as suas curas, não se alegra somente com as suas
vitórias. Você recebe tudo isso em dobro, triplo e muito mais, pois cada pessoa te acrescenta coisas ricas.
Já ouvi a frase Quando você se cura, você cura todos ao seu redor? A Sacerdotis@ é uma eterna curadora, uma eterna moldadora de vidas.



Vale lembrar que depois da Iniciação, tudo fica mais pesado, independente de você já ter dedicados ou não.
Há momentos em que você se sente impotente, incapaz, não merecedora daqueles conhecimentos, daquela honra. Há momentos de imensa tristeza, de imensa alegria, de inúmeras lágrimas, de loucuras mentais,          neuras e tantas outras coisas. E quando se tem um Coven e mais, é Sacerdotis@ deste, é necessário se manter equilibrada para conduzir um ritual, uma celebração. A Sacerdotis@ é sempre um exemplo, até nos momentos ruins.
Essa reflexão serve, portanto, para nós dedicados, iniciados de 1º e 2º graus, que ainda não dedicamos pessoas. Seus Sacerdotes são seus ancestrais e deve-se dar o devido valor a eles, pois os verdadeiros fazem realmente de tudo por você e por tantos outros.

O intuito dessa postagem não é, entretanto, desanimar ninguém ao sacerdócio. Lembrem-se sempre que tudo na vida tem dois lados, e que ambos contêm ensinamentos profundos a nos passar. O intuito dessa postagem é, portanto, conscientizar as pessoas leigas ao que o que é o sacerdócio e o que as Sacerdotisas realmente representam no caminho de alguém. Hoje vemos iniciações feitas a rodo por aí, ao final de cursos pagos de Bruxaria, onde posso garantir-lhes que não se aprende nem um quarto do a Bruxaria como um todo abarca de fato. Isso acarreta grandes consequências para a crença e seus neófitos, fazendo não somente a crença ser levada levianamente, mas também formando Sacerdotis@s que não estão de fato preparadas para tal. Logo, fiquem espertos e de olhos bem abertos com quem vocês escolhem para guiar você no seu caminho.
Quer saber se tal pessoa é uma Sacerdotis@ de verdade? Observe a vida dessa pessoa.


Autoria: Aline Pandora.

Fonte de consulta para a raiz etimológica da palavra Sacerdote:
www.hridiomas.com.br